O MINISTÉRIO DE ELIAS E O SEU QUADRO DEPRESSIVO[1]

“Elias teve medo e fugiu para salvar a vida. Em Berseba de Judá ele deixou o seu servo e entrou no deserto, caminhando um dia. Chegou a um pé de giesta, sentou-se debaixo dele e orou, pedindo a morte. “Já tive o bastante, Senhor. Tira a minha vida; não sou melhor do que os meus antepassados.” (1Reis 19:3 e 4 – NVI).

I. INTRODUÇÃO

Atualmente a depressão tem sido considerada como uma doença mental incapacitante e que mais tem afetado as pessoas no mundo segundo a OMS. “De acordo com pesquisa divulgada pela Organização Mundial da Saúde, publicada em 2018,[2] o número de pessoas com depressão no mundo aumentou 18,4%, chegando a 322 milhões de indivíduos.”[3] Em território nacional, a realidade é ainda mais alarmante, pois o “Brasil é campeão de casos de depressão na América Latina. Quase 6% da população, um total de 11,5 milhões de pessoas, sofrem com a doença, segundo dados da OMS”.[4] Dentre os inúmeros sintomas que a depressão produz é possível identificar: o “Estado de imensa tristeza”, “Ausência de alegria em qualquer atividade”, “Perda ou ganho de apetite e peso”, “Alterações no sono”, “Lentidão ou agitação nos movimentos”, “Fadiga ou perda de energia”, “Sentimentos negativos para consigo mesmo”, “Sentimento de culpa”, “Limitações na capacidade mental” e “Ideias ou intenções de suicídio”.[5] Alguns desses sintomas são encontrados na vida de vários personagens bíblicos como: Judas Iscariotes que suicidou-se por alimentar o sentimento de culpa entre outros (Mt 27:1-10), Jeremias que amaldiçoou o dia do seu nascimento (Jr 20:14-18), Saul diante de sua beleza, altura e riqueza (1Sm 9:1-2) quando errou contra Deus passou a justificar seus erros pondo a culpa noutras pessoas (1Sm 15:20-21), alimentou a baixa estima (1Sm 15:16-19), teve o seu “eu” ferido por ser o preferido do povo (1Sm 18:6-9), acabou tirando a própria vida (1Sm 31:1-13), Salomão que também sofreu de distorção cognitiva (Ec 2:1 e 10) e por isso, chegou a desprezar a vida (Ec 2:17 e 20),[6] Jonas que pediu a morte para si (Jn 4:3) e, o caso de Elias (1Rs 19); este último, gostaria de propor que avaliemos o seu quadro mais profundamente.

 

II. O MINISTÉRIO DE ELIAS E O SEU QUADRO DEPRESSIVO

1. O Contexto: vida e ministério do profeta Elias. 

a) O rei Acabe e sua esposa Jezabel. O texto em questão 1Reis 19:3 e 4, faz parte da história do rei Acabe (cerca de 874-853 a.C.) o sétimo rei do “reino de Israel” o qual fez de Israel uma nação e teve um reinado fortemente marcado por “pactos políticos” com os povos de Judá e outras nações próximas como a Fenícia e a Síria; ao mesmo tempo, desenvolveu um “reinado fraco” em questões morais levando o seu povo a prática da “idolatria” através de sua esposa Jezabel mulher pagã e cruel, o que provocou a ira do Senhor e trouxe a ele a morte numa batalha (1Rs 16:29-22:40).

b) Elias e o Seu ministério. O reinado de Acabe está atrelado ao ministério do profeta Elias (1Reis 17:1-19:21): o capítulo 17 apresenta o início do seu ministério que teve duração de três anos (1Rs 18:1), onde Deus por meio dele anuncia uma grande fome sobre a terra de Israel devido a rebeldia contra Ele (1Rs 17:1), fugindo ao deserto, ali foi alimentado por corvos (1Rs 17:2-6), operou ele milagres na casa de uma pobre viúva de Sarepta (1Rs 17:7-24); seguido do evento que marca a apresentação do profeta ao rei Acabe que lhe anuncia a chegada de chuva sobre a terra, traz a descrição do dramático embate entre os profetas de Baal e Ele (Elias) no monte Carmelo e exibe a prece dele para que chovesse (1Rs 18:1-46); chegamos então ao capítulo 19, onde gostaria de propor a você que tiremos algumas lições especiais.

2. A depressão de Elias[7]: resultado da ameaça de morte por Jezabel (1Rs 19:1-7).

a) A primeira “fuga” de Elias foi para a cidade de Berseba diante da ameaça de morte por Jezabel (1Rs 19:1-3). Elias deixou de confiar na condução de Deus e agiu por conta própria, com “temor” ele “fugiu” para “Berseba, que pertence a Judá; e ali deixou o seu moço” (1Rs 19:3 - ARA). Ellen G. White comenta: “Uma reação como a que frequentemente segue elevada fé e gloriosos sucessos, estava exercendo pressão sobre Elias. Ele temeu que a reforma iniciada no Carmelo não fosse duradoura; e a depressão se apoderou dele. Havia sido exaltado ao topo do Pisga; agora estava no vale. Enquanto sob a inspiração do Onipotente, ele tinha resistido à mais severa prova de fé; mas neste tempo de desencorajamento, com a ameaça de Jezabel soando-lhe aos ouvidos, e Satanás ainda aparentemente prevalecendo mediante a trama desta ímpia mulher, ele perdeu sua firmeza em Deus. Havia sido exaltado acima da medida, e a reação foi tremenda” (Profetas e Reis, págs. 161 e 162).[8]

b) A segunda “fuga” de Elias foi para uma árvore de zimbro no deserto onde recebeu os cuidados de Deus, Seu consolo diante de sua crise (1Rs 19:4-7). Elias já estava num quadro depressivo profundo que “pediu para si a morte e disse: Basta; toma agora, ó SENHOR, a minha alma, pois não sou melhor do que meus pais” (1Rs 19:4 - ARA).

3. O encontro de Elias com Deus no monte Horebe: o confronto (1Rs 19:8-14).

a) A terceira “fuga” de Elias foi para uma caverna no monte Horebe, carregava consigo o desejo de ausentar-se dos problemas, promovia o seu zelo pessoal a Deus e tinha uma distorção: generalização exagerada dos fatos (1Rs 19:8-10, 14).

b) O diálogo de Elias com Deus num lugar de paz, revela: a ordem de Deus para que Elias se apresentasse em Sua presença com reverência e dEle recebesse a resposta dos seus questionamentos a semelhança de Moisés na teofania entre a rocha (1Rs 19:11-14; cf. Êx 33:20-23). Perceba, no diálogo com Deus “A distorção de Elias era a generalização exagerada. “Sou o único que não se prostrou diante de Baal”, disse ele [1Rs 19:10, 14].[9] Essa era uma afirmação falsa que precisava ser corrigida, exigiu uma resposta de Deus ao profeta (1Rs 19:18).

4. O tratamento de recuperação da depressão de Elias: comissão, encorajamento e tarefas específicas (1Rs 19:15-18). O objetivo era fazer avançar a missão que lhe fora designada sem vacilar, escolheu ele um sucessor por nome Eliseu que por meio de um sacrifício especial aceitou o chamado (1Rs 19:19-21).

a) O programa de recuperação para deprimidos.[10] Relembremos e ampliemos o assunto: “Deus precisou enviar um terremoto e um vendaval para tirá-lo da caverna e colocá-lo na luz [1Rs 19:11-13]. Depois disso, o Senhor passou ao que era mais importante na recuperação de Elias: terapia comportamental cognitiva para corrigir os pensamentos distorcidos do profeta. [...] Deus lhe deu uma série de tarefas específicas [1Rs 19:15 e 16]”.[11]

b) A recuperação de Elias. A comissão do Senhor ao profeta lhe solicitava três atitudes: ungir para ser rei da Síria, Hazael (1Rs 19:15), ungir para ser rei de Israel, Jeú (1Rs 19:16a) e ungir Eliseu para ser o seu sucessor como profeta (1Rs 19:16b-17), ele que logo aceitou o chamado ao oferecer um sacrifício especial a Deus (1Rs 19:18-21). É notável que “O profeta cumpriu aquilo que o Senhor lhe pediu que fizesse e ele não só se recuperou, mas também foi levado para o Céu sem passar pela morte (2Reis 2:11)”.[12]


III. CONCLUSÃO E APELO

Em todos os quadros de personagens bíblicos que apresentam um quadro depressivo, àqueles que se apegaram ao tratamento de Deus encontram a cura tão desejada, exceto em alguns caso que deixando de lado as dicas, conselhos e tratamento dEle tiveram um triste fim. Elias aceitou o tratamento de Deus e foi vitorioso. 

Você acredita que com ajuda de um bom profissional da área da psicologia, psiquiatria entre outros e, com o auxílio de Deus é possível se livrar da depressão ou ainda duvida de que alcançar uma solução seja impossível? 

Se ainda tens dúvidas e não se sentes convicto do que Deus pode fazer por você, reflita nas palavras de Cristo e deixe-O conduzir a vitória tão esperada, Ele diz:

“— Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso. Sejam meus seguidores e aprendam comigo porque sou bondoso e tenho um coração humilde; e vocês encontrarão descanso” (Mt 11:28-29 – NTLH). 

Que Deus lhe abençoe imensamente!


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[1] Produzido por: Adevertir Pogian. Sermões e Mensagens bíblicas: o ministério de Elias e o seu quadro depressivo. Disponível em: < https://adevertir.blogspot.com/2021/01/o-ministerio-de-elias-e-o-seu-quadro.html>. Acesso em: 24 de janeiro de 2021.

[2] World Health Organization, “Depression and Other Common Mental Disorders: Global Health Estimates”, disponível em: <http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/254610/WHO-MDS-MER-2017.2-eng.pdf?sequence=1>, acesso em 6 de janeiro de 2019.

[3] Luiz Gonçalves e Diogo Cavalcanti, A maior esperança: prepare-se para uma nova vida (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2019), p. 9.

[4] Numa manchete para o Jornal O Estado de São Paulo cf. Camila Tuchlinski. Depressão será a doença mental mais incapacitante do mundo até 2020. [2018]. Disponível em: <https://emais.estadao.com.br/noticias/bem-estar,depressao-sera-a-doenca-mental-mais-incapacitant es-do-mundo-ate-2020,70002542030>. Acesso em 23 de janeiro de 2021.

[5] Julián Melgosa, Mente positiva: como desenvolver um estilo de vida saudável (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2009), 70.

[6] Cf. detalhes na obra de Mark Finley e Peter Landles, Viva com esperança: segredos para ter saúde e qualidade de vida (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 55-60.

[7] Sobre o quadro depressivo de Elias sugiro a leitura do capítulo “Em dias de angústia” da obra de Darleide Alves, Amor e Cura (São Paulo: Editora Assim, 2015), p. 75-81.

[8] Ellen G. White, Mente, Caráter e Personalidade, volume II: guia para a saúde mental e espiritual (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016), p. 96. Disponível em: http://ellenwhite. cpb.com.br/livro/index /50/482/496/depressao.

[9] Ibid., Finley e Landles, Viva com esperança, p. 61.

[10] Na descrição de Melgosa em seu livro (Mente positiva, p. 71-75) você encontrará orientações de “Como prevenir a depressão” e “Como curar a depressão”; ver também obra de Julián Melgosa e Michelson Borges, O poder da esperança: segredos do bem-estar emocional (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2017), p. 23-35. Melgosa expõe: “O tratamento da depressão é realizado de duas formas: através da farmacologia e da psicoterapia. Na maioria dos casos, é indicado o tratamento farmacológico inicial prescrito por um médico ou psiquiatra [...] é seguido um plano de intervenção psicológica que prepara a pessoa para sair da depressão e evitar seu retorno” (Mente positiva, p. 72). Deus aplicou um desses tratamentos ao profeta Elias (1Rs 19:9-21).

[11] Ibid., Finley e Landles, Viva com esperança, p. 60-61.

[12] Ibid., Finley e Landles, Viva com esperança, p. 61.

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