O PERDÃO INDISPENSÁVEL[1]

“Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete.” (Mateus 18:21-22 – ACF).

I.  INTRODUÇÃO

Inúmeras pessoas possuem uma imensa dificuldade no desenvolver e aplicar o perdão de forma prática à vida; por vezes, familiares, cônjuges, namorados e amigos do âmbito pessoal e profissional são afetados. Recentemente, entre os anos de 2016 e 2018, foi realizado uma pesquisa que associou a “capacidade de perdoar” com às “doenças cardiovasculares”; a responsável pelo estudo foi a psicóloga, Dra. Suzana Avezum, ela “estudou 130 pacientes – metade saudável, metade já tinha sofrido um infarto do miocárdio – para analisar seus perfis, a disposição para o perdão e a relação com a espiritualidade.”[2] Seu estudo trouxe à tona que, “quem tinha mais dificuldade para perdoar apresentava um histórico de problemas cardiovasculares”; e mais, “apontou que 31% dos que já tinham infartado confessavam uma perda significativa de fé – entre os que não apresentaram problemas de coração, o índice foi de apenas 9%.”[3] É notório a relevância desse tema e a compreensão deste, pode trazer grandes benefícios a vida humana. 

No presente estudo, responderemos os seguintes questionamentos:

1-      O que é o perdão?

2-      Qual a extensão do tema perdão a luz da Bíblia e a Psicologia?

3-      Quais malefícios são adquiridos quando não perdoamos a quem nos ofendeu e os benefícios que são obtidos pela prática do perdão?

4-      Há limites para o perdão, por que devemos perdoar?

Proponho que analisemos o assunto!

II. O PERDÃO INDISPENSÁVEL

1.  Que é o perdão? A palavra “perdoar”, segundo o “Dicionário Online de Português” vem do “verbo perdoar deriva do latim “perdonare”, com o mesmo sentido de conceder perdão.”[4] Define o termo de forma mais simplifica Avezum, ela expõe que, “Perdoar é abrir mão do direito de sentir aquela mágoa. Quando somos ofendidos, magoados ou agredidos injustamente, nos sentimos no direito de nutrir a raiva, guardar aquele ressentimento. Perdão é deixar para trás.”[5]

2. A extensão do tema perdão a luz da Psicologia e a Bíblia.

a. Visão da Psicologia. O psicólogo Julián Melgosa, em sua obra “Crer faz bem”, destaca: “O perdão é, talvez, a qualidade moral mais estudada do ponto de vista psicológico. A culpa, muitas vezes resultante da falta de perdoar, é uma tremenda barreira para a saúde mental e bem-estar psicológico.”[6] Conforme Avezum, a questão da dificuldade de perdoar, está presente “em assuntos familiares, amorosos, de amizade e profissionais.”[7] Abrangendo ainda mais a problemática, Melgosa comenta que com a “redescoberta” do assunto “perdão”, em torno de vinte anos atrás até os dias atuais, ganhou atenção e, “Os psicólogos, conselheiros e assistentes sociais têm observado que a maior parte dos casos que buscam a psicoterapia estão relacionados aos problemas interpessoais: conflitos matrimoniais, ofensas, conflitos no trabalho ou entre amigos, questões judiciais e outros.”[8]

b. Visão da Bíblia. Explica Melgosa que o assunto do “perdão” é recorrente tanto no Antigo quanto no Novo Testamento; por exemplo, “Antes de morrer, Jacó deixou uma mensagem para José perdoar seus irmãos (Gn 50:17), Saul pediu a Samuel que o perdoasse por não ter seguido sua instrução (1Sm 15:24 e 25) e Abigail pediu que Davi a perdoasse por sua presunção (1Sm 25:28).”[9] Estes registros são encontrados no Antigo Testamento. Já no Novo Testamento, o tema e os benefícios do perdão é desenvolvido por Cristo com muita “firmeza” através do Seu “exemplo” e “norma” (Mt 6:12; 18:21-22; Mc 11:25; Lc 23:34) diante de uma “cultura em que o perdão humano não era considerado uma virtude, e o ódio era por vezes encorajado: “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’” (Mt 5:43, itálico acrescentado).”[10] Dois casos que merecerem nossa atenção relativo ao perdão, são eles:  (a) Cristo e Pedro: o personagem Pedro negou ser amigo e discípulo de Jesus por três vezes e por três vezes Jesus Cristo lhe ofereceu o perdão que ele precisava alcançar - ambos se reconciliaram (ver Mt 26: 26-69, J 21: 15-17; 1Pe 3: 8-9, 4:8); (b) a mulher adúltera e Jesus: pessoas maldosas e líderes hipócritas apanharam uma mulher no ato do adultério, buscando armar uma cilada para Jesus levou a mesma aos Seus pés para que Ele a condenasse, Ele revelou os pecados dos acusadores tendenciosos os quais logo saíram de Sua presença sem ter o que fazer; Ele perdoou a mulher dos seus erros, lhe pediu que não pecasse mais e fosse fiel a Deus (Jo 8: 1-11).

3. Os malefícios da ausência do perdão.

Segundo Melgosa, “psicólogos”, “conselheiros” e “assistentes sociais” avaliando a importância do perdão, eles “chegaram à compreensão de que o perdão é a base de todos os relacionamentos e que não perdoar é prejudicial a interação humana e à saúde física e mental.”[11] De fato, há uma grande relação entre o que pensamos com a saúde do corpo, sobre isto agrega Alexandre Maklouf, ao dizer: “Os efeitos a longo prazo que mágoas e sentimentos negativos podem causar na nossa saúde mostram que a relação entre nosso estado mental e físico é, muitas vezes, direta.”[12] As consequências são inúmeras, Avezum destaca que, as “Lembranças ruins provocam estresse e isso prejudica nosso corpo. Ruminar os acontecimentos antigos faz com que eles se tornem presentes – e, todas as vezes que você relembra, sente tudo de novo. O efeito prolongado disso vai bombardeando o organismo com substâncias que podem prejudicar a saúde ao longo do tempo.”[13] Essa ideia parece concordar com a declaração do Sábio Salomão, que ressalta que a maneira como pensamos pode impactar a nossa vida e até mudar o rumo das coisas, pois aquilo que imaginamos somos (Pv 23:7). Noutro texto, encontramos uma sentença que é aplicada por Deus ao Seu povo em rebelião, por terem alimentando o pensamento com coisas que não deviam (Jr 6:19). Quando deixamos de perdoar e usar de misericórdia como fez o servo inclemente, não podemos receber o perdão de Deus (Mt 18:23-35. 6:12), não podemos adorá-Lo e nem orar a Ele (Mt 5:23-24; Mc 11:25-26; 1Pe 3:7). Quando não perdoamos deixamos de prosperar (Pv 28:13), ficamos doentes (Tg 5:16), nos tornamos manobras fáceis de Satanás (2Cor 2:5-11), vivemos em amargura, perdemos a graça de Deus e logo a vida eterna (Hb 12:14-15).

4. Os benefícios da prática do perdão.

Na visão de Melgosa, o perdão traz inúmeros benefícios a vida humana tais como: a Promoção da “saúde geral e o bem-estar”; o alívio aos dolorosos sintomas da “Fadiga crônica e fibromialgia”; ajuda as pessoas portadoras de “doenças cardíacas”; fortalece a “saúde mental”; auxilia nos “transtornos relacionados ao uso de substâncias tóxicas”; melhora a qualidade nos “relacionamentos”.[14]  Devemos suportar uns aos outros e perdoar como o Senhor o faz[15], pois o perdão suscita perdão, traz alegria, amor e tantos outros benefícios.[16]

5. Não há limites no perdão.

A luz da Bíblia, não deve haver limites no perdão. Não devemos apenas perdoar “sete vezes” como sugeriu Pedro no seu diálogo com Cristo (Mt 18:21), mas como sugeriu Jesus: não pode haver limites no ato de perdoar (Mt 18:22; cf. Lc 17:3-4).

III. CONCLUSÃO E APELO

Está difícil perdoar? Lembre-se: o perdão está ligado ao assunto da saúde física, mental e espiritual. Como Melgosa evidencia: “O perdão está se tornando uma nova forma de medicina. Pesquisas médicas e psicológicas estão descobrindo que o perdão, um tema central no cristianismo, é um fator altamente eficaz para a saúde tanto física como mental.”[17] Assim, uma “avaliação de materiais publicados” sobre o assunto do perdão, concluiu que “a intervenção do perdão” pode ser de grande utilidade tanto para a saúde pública quanto pessoal, afirma Barbara Elliott da Escola de Medicina da Universidade de Minnesota (EUA).[18] No que diz respeito a visão bíblica sobre o tema, já sabemos que a Bíblia como um todo trata da importância do perdão tanto na esfera divina quanto humana (Mq 7:19; Ef 4:30-32; Col 3:13).

Portanto, perdoar deve ser um dever de todos os que desejam viver bem!


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[1] Produzido por: Adevertir Pogian. O perdão indispensável. Sermões e Mensagens bíblicas, 2021. Disponível em: http://adevertir.blogspot.com/2021/03/o-perdao-indispensavel-todos1.html>. Acesso em: 15 de fev. de 2021.

[2] Alexandre Makhlouf, “O perdão”. Revista do Hospital alemão Oswaldo Cruz, n. 12, p. 16, Set/Nov 2019. Disponível em: <https://www.hospitaloswaldocruz.org.br/wp-content/uploads/2019/12/LEVE_12 _VERS %C3%83O-DIGITAL.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2021.

[3] Ibid., Makhlouf, Revista do Hospital alemão Oswaldo Cruz, p. 16. 

[4] Perdão. In: Dicio, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2021. Disponível em: <https://www.dic io.com.br/perdoar/>. Acesso em: 27 fev. 2021.

[5] Ibid., Makhlouf, Revista do Hospital alemão Oswaldo Cruz, p. 14. 

[6] Julián Melgosa, Crer faz bem: pesquisas comprovam os benefícios da espiritualidade cristã (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 60.

[7] Ibid., Makhlouf, Revista do Hospital alemão Oswaldo Cruz, p. 14. 

[8] Ibid., Melgosa, Crer faz bem, p. 62.

[9] Ibid., Melgosa, Crer faz bem, p. 61.

[10] Ibid., Melgosa, Crer faz bem, p. 61.

[11] Ibid., Melgosa, Crer faz bem, p. 62. Um estudo realizado por Kathleen Lawler da Universidade de Tennessee, em Knoxville, nos Estados Unidos da América, provou que quando há redução de perdão, a saúde também é prejudicada. Cf. Detalhes Kathleen A. Lawler et al. “The Unique Effects of Forgivenes om Health: Na Exploration of Pathways”, Journal of Behavioral Medicine 28 (2005), p. 157-167. Breve comentário sobre o estudo ver (Melgosa, Crer faz bem, p. 65).

[12] Ibid., Makhlouf, Revista do Hospital alemão Oswaldo Cruz, p. 18. 

[13] Ibid., Makhlouf, Revista do Hospital alemão Oswaldo Cruz, p. 14. 

[14] Confira os detalhes na íntegra (Melgosa, Crer faz bem, p. 65-77).

[15] Pontua Melgosa que o perdão na Bíblia traz “dois tipos de mensagens”, são elas: “(1) aquelas que mostram a necessidade de buscar o perdão de um Deus amoroso, que proveu os canais para retirar a culpa e obter a purificação moral, e (2) aquelas que estimulam as pessoas a perdoar umas às outras.” Ele ainda diz que, “Ambos os processos são essenciais, e a segunda é uma condição para a primeira: O perdão de Deus não se torna viável sem que seja concedido o perdão aos outros (Mt 5:24; 6:14, 15; Mc 11:25; Lc 6:37).” (Crer faz bem, p. 61).

[16] Ver textos bíblicos como: Sl 86:5; 32:1; Is 55:7; Mq 7:19; Mt 5:43-48; 6:14-15; Lc 6:37; Rm 8:1, 37-39; 2Cor 2:5-8; Ef 1:7; 4:26, 32; Col 1:13-14; 3:13; 1Jo 1:9.

[17] Ibid., Melgosa, Crer faz bem, p. 77.

[18] Ver Melgosa, Crer faz bem, p. 77-78; Barbara A. Elliott, “Forgiveness Therapy: A clinical Intervention for Chronic Disease”, Journal of Religion and Health 50 (2011), p. 240-247.

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