LÍNGUA OU DINAMITE[1]

Com a língua bendizemos ao Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. Da mesma boca procedem bênção e maldição. Meus irmãos, não pode ser assim! ” (Tiago 3:9-10, NVI).[2]
(Foto/Montagem: Adevertir Pogian)
I. INTRODUÇÃO
Pequena como é, se torna grande o suficiente quando mau controlada, ela [a língua] induz muitos a contenda, briga, ira e morte. Guardá-la é um dos maiores desafios da vida humana, quanto mais para o real cristão que procura viver a essência do Evangelho a exemplo de Cristo.

Perguntas para consideração:

1. Tiago expressa no presente texto que todos não têm o domínio da língua ou falava à um grupo específico?

2. Por si só e possuindo “imperfeição”, pode homem domar sua língua?

3. Mediante qual condição pode o cristão ser tardio em falar e quando expressar seus pensamentos conduzir pessoas a fonte da vida?

II. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
1. Circunstância, lugar e a quem falava (v.1). Se faz relevante pontuar que “Tiago, servo de Deus, e do Senhor Jesus Cristo” (Tg 1:1, NVI), aferindo-se do texto, falava especial a um grupo de “irmãos”[3] e “Mestres”[4] (Tg 1:1; 3:1, NVI)[5], aos quais carregavam em si uma ânsia de se expressar publicamente; falando de forma desenfreada sendo pretenciosos. Tiago, contudo, destaca no muito conhecimento, surgem grandes responsabilidades, seja sobre si próprio quanto aos que lhes rodeiam: pobres, necessitados, órfãos e viúvas etc. (Tg 3:1; 2:1; 5, 14); sob sua influência serão julgados.

2. Imperfeição humana (v. 2a). Por si próprio o homem não pode ser perfeito, Tiago expõe “Porque todos tropeçamos em muitas coisas” (Tg 3:2, NVI), o termo grego (Ptaio) se refere a “tropeçar” ou “escorregar”.[6] Paulo parece agregar quando expõe: “Aquele...que pensa estar em pé cuida para que não caia” (1Cor 10:12, AEC). Todos os humanos são propensos ao erro (1Rs 8:46; Sl 14:1; Rm 3:23; 1Jo 1:8), inclusive os “mestres”; por isso, poucos deveriam ser mestres.

3. Perfeição mediante Deus (v. 2b). Obras humanas de nada valem! A pura perfeição advém de Deus, Ele é o padrão da perfeição gr. teleios (Mt 5:48), aponta para um relacionamento contínuo do homem que olha para Deus (fonte de amor) e dEle transmite amor (gr. agapao) ao seu semelhante amigo e inimigo (Mt 5:43,47)[7]. NEle é possível obter autocontrole (2Pe 1:3-5), através da ação do “Espírito” (Gl 5:25), “quando se guarda a Sua palavra” (1Jo 2:5,6). Ou seja, aquele que fala revela o teor de seus pensamentos (Tg 1:26) o que é “puro honesto e amável alcançou a semelhança de Cristo” e controla o corpo (Mt 12:34-37).[8]

II. INSTRUÇÕES DA LÍNGUA DISCIPLINADA
Tiago destaca aqui um paralelo com língua[9] não disciplinada e seu trágico efeito, a figura dos seguintes ensinos:

1. “cavalos” e “freios” (v. 3, NVI). Por mais que pareça indomável, um pequeno “freio” (ARA)[10] ou “rédea” o domina.[11] Ou seja, homem que julga ser religioso (piedade farisaica) deverá refrear sua língua em tempo certo, para não viver no engano (Tg 1:26).[12] Em síntese, a ideia é não ser como cavalos “sem entendimento” (Sl 32:9, ARA) que necessitam “freios e rédeas” (Sl 32: 9, BKJA) para obedecer.

2. “Navios...grandes” e “pequeníssimo leme” (v. 4, ARA). Figura familiar para os leitores de Tiago, visto que “o império romano era margeado pelo Mar Mediterrâneo”.[13] Por ali passavam grandes navios da época.[14] “Os navios são dirigidos [mediante “rijos ventos”, ARA][15] empregando-se os lemes, de tamanho relativamente pequeno, aliás a sorte dos navios depende dos lemes [timão]”.[16] Em ambos os casos, algo pequeno domina um objeto maior tal como a língua que domina todo o corpo.

3. “Fogo” e “selva” (v. 5-6, ARA). Destaca o pensamento de uma pequena “fagulha” (ARA), que é capaz de pôr “fogo” numa “grande selva” (ARA). Dessa figura, Tiago expõe que a língua é como um “fogo” destruidor, [palavras destrutivas, tira a harmonia e paz, pois está sob o controle de Satanás[17]] cheia de “iniquidade”, ela contamina (Mt 15:11), “o corpo inteiro...põe em chamas toda carreira da existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno”[18] (Tg 3:6, ARA).

4. “Espécie de feras” (v.7-10, AEC). O homem consegue dominar todos os tipos de “animais” (v.7, NVI), ele os pune pela força que possui (Gn 1:28; 9:2; lRs 4:33); “a língua, porém ninguém consegue domar” (v.8, NVI). Pertinente a incontrolável “natureza pecaminosa” e a “sedução Satânica” no Éden (Gn 3:1-5). Nesse caso, “domar” se refere ao controle satânico[19]; o “veneno mortífero” (NVI), metáfora alude ao pecado verbal que é pior do que o veneno mortal de uma víbora (Is 58:4; 140:3; Rm 3:13-14). “Somente a obra do Espírito Santo dentro de nós pode assumir o controle desta força destrutiva” [20], capaz de transformar o caráter transgressor (v. 9-10).

5. A Ilustração da “água doce e a água amarga” (v. 11, NVI)[21], a “figueira”, “videira e seus frutos” (v. 11-12). Ambos os exemplos esclarecem sobre a incompatibilidade do cristão pecar, isto é, declarar “bênção e maldição” (Tg 3:10), pois foge do seu caráter e a “identidade em Cristo” (Mt 7:16-20; 12:33-36).[22]

III. A FONTE DE PODER PARA REFREAR A LÍNGUA
1. O poder de Cristo, Seu exemplo.
a) A declaração de Isaías acerca de Cristo. “Ele foi oprimido e afligido, contudo não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado para o matadouro, e como uma ovelha que diante de seus tosquiadores fica calada, ele não abriu a sua boca. [...] Foi-lhe dado um túmulo com os ímpios, e com os ricos em sua morte, embora não tivesse cometido qualquer violência nem houvesse qualquer mentira em sua boca” (Is 53:7, NVI; cf. 1Pe 2:21-25; Rm 1:16-17).

b) A declaração de Ellen G. White a Seu respeito. “Embora tenha sido duramente provado na questão do falar de maneira impulsiva e irada, nem uma vez Ele pecou com os Seus lábios. Com paciente calma enfrentou as zombarias, os escárnios e o ridículo de Seus companheiros de trabalho no banco da carpintaria. Em lugar de retrucar com ira, começava a cantar um dos belos salmos de Davi; e Seus companheiros, antes de se aperceberem, uniam-se a Ele no cântico” (NAV, 2013 [MM 1962, 289], 597, 598).[23]

c) NEle é possível domar a língua. Eis o conselho Paulino: “Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai” (Col 3:17, NVI; cf. Tg 1:26). Completa Ellen G. White: “Mediante o auxílio que Cristo pode dar, seremos capazes de aprender a refrear a língua. [...] Que transformação se realizaria neste mundo se homens e mulheres hoje seguissem o exemplo de Cristo no uso da palavra! ” (NAV, 2013 [MM 1962, 289], 597, 598).

2. O poder do Espírito Santo.
a) A promessa e o cumprimento. Mediante a promessa de Cristo, o Espírito Santo foi enviado aos seus discípulos (Jo 16:5-16), logo ao recebe-lo (batismo), dEle recebe o “poder” para “testemunhar” do real Evangelho a todos os povos (Mt 28:19, 20; At 1:8; 1Co 6:19-20).

b) O Viver no Espírito. O maior desafio do cristão é permitir a real atuação do Espírito Santo no viver, deixa-lo transformar o caráter e alimentar-se do Seu fruto; mas aquele que ouve a Sua voz, é direcionado a Cristo o qual oferece misericórdia e Graça (Gl 5:22-26; Hb 3:7-15; Ef 2).


IV. CONCLUSÃO E APELO
1. A fala é um dom elevado. “O talento da fala se classifica entre os dons mais elevados” (Ms 92, 1899, par.2).[24] Fazer um bom uso desse dom é dever de todo cristão, seja mestre ou aprendiz!

2. O mau uso da língua e suas consequências. O risco é de que todo o corpo humano seja encaminhado à ruína (Mt 12:36-37), visto que uma língua não domada possui veneno pior do que o de víbora.

3. Bênção ou maldição? Não é compatível ao fiel cristão viver duplamente, foge do seu caráter e da “identidade em Cristo”, o conviver com o pecado.

4. Convite divino. Deus em Sua infinita bondade, por meio do seu servo Tiago nos convida a um viver puro e santo[25], apela para que falemos sabiamente de maneira que honremos ao Senhor e sejamos testemunhas vivas aonde quer que formos.
a) Anseia você viver essa experiência junto dEle hoje? Se sim, peça-O que tenhas compaixão, clame para que seus lábios sejam purificados com a brasa viva do Seu altar e permita que Ele independentemente de seus pressupostos mude toda a Sua alma e o condicione somente a Ele.

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[1] Organizador: POGIAN, Adevertir. Sermões e Mensagens bíblicas: Língua ou Dinamite. [2017]. Disponível em: <http://adevertir.blogspot.com.br/2017/11/lingua-ou-dinamite1.html>. Acesso em: 29 out. 2017.
[2] BIBLIA, Online. Nova Versão Internacional: Tiago 3:9,10. Disponível em:  <https://www.bibliaonline.com.br/nvi/tg/3/9,10>. Acesso em: 25 set. 2017. 
[3] (CBASD, 2014, vol. 7, p. 57)3, seriam Irmãos de fé, ele continua aqui o assunto do capitulo 1, “Ele insta seus irmãos de fé a se habituarem a ouvir e estudar a palavra que fora implantada neles (Tg 1:19, 21, 25), que implica “mansidão” (Tg 1:21) e mais, “imparcialidade para com o rico e o pobre (Tg 2:1-13) e fé genuína (Tg 2:15-26) ” e também para se tornar semelhante a Cristo, a maneira de falar deve ser mudada (Tg 1:19, 26; 2:12). Ver mais: COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA: A Bíblia sagrada com o comentário exegético e expositivo.1.ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2014 (Série Logos, v.7).
[4] Igual aos escribas e fariseus que condenavam aos outros, impõe-lhes fardos, o desejo de Tiago é que sua comunidade fossem irmãos em Cristo: o real Mestre (Lc 6:37; Mt 23:8).
[5] Segundo a Bíblia de Estudos Andrews (2015, p. 1608, 1610), em Tg 1:1 “doze tribos...na Dispensação” provavelmente seriam judeus ou uma metáfora para os cristãos como novo Israel. Mais sobre cf. BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos Andrews. Tradução: Cecília Eller Nascimento. 1. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2015, 1608, 1610.
[6]Cf. Biblioteca Bíblica (2017). Mais detalhes: Biblioteca Bíblica. Fé e Domínio da Língua-Tiago 3:1-12. [2017]. Disponível em: <https://bibliotecabiblica.blogspot.com/2011/07/fe-e-dominio-da-lingua-tiago-31-12.html >. Acesso em: 26 set. 2017. Ver ainda (CBASD, 2014, vol. 7, p. 473).
[7] Ver (KNIGTH, 2016, p. 158-162) Ver mais sobre “perfeição”, conf.: KANIGTH, George R. Pecado e Salvação: o que é ser perfeito aos olhos de Deus. Tradução: José Barbosa da Silva. 1 Ed – São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2016, 154-175. Ver ainda: Knight, George R. Eu costumava ser perfeito: minha busca pela verdadeira religião. Tradução: Nelson Barrizzelli, Glaucia Barrizzelli Murino, André Barrizzelli Murino. 1 . ed. Engenheiro Coelho: Unaspres-Imprensa Universitária Adventista, 2016.
[8] Ibid., (CBASD, 2014, vol. 7, p. 473).  
[9] Ele trabalha o mesmo assunto em (Tg 1:19, 26, 27). A ideia seria “O controle sobre a língua precipitada e indisciplinada amadurece as pessoas para exercer controle sobre todo ser” (BILBIA DE ESTUDOS ANDREWS, 2015, p. 1612).
[10] BÌBLIA. Português. A Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamento. Tradução João Ferreira de Almeida. Revisada e Atualizada no Brasil. 2. ed.[S.l.]: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
[11] Ibid., (CBASD, 2014, vol. 7, p. 473).
[12] Outros textos expõem ainda: que em face da desobediência desenfreada será posto um “cabresto” sobre a “boca” humana (1Rs 19:28), o salmista expõe: apelo a não ser como cavalos que necessitam “freios e rédias” para obedecer (Sl 32: 9), e mais, “atarei uma mordaça em minha boca”, ante os ímpios (Sl 39:1), ou “freio” no sentido de resgate divino (Is 37:29).
[13] Ibid., (CBASD, 2014, vol. 7, p. 474).
[14] Ibid., (CBASD, 2014, vol. 7, p. 574), para o povo antigo os navios da época eram grandes; Paulo navega21ndo para Malta, fora num grande navio que carregava 276 pessoas, mais os passageiros (At 27:37). Cabe observa que independentemente da situação todo navio é mui grande em relação ao leme.
[15] Acrescenta o (CBASD, 2014, vol. 7, p. 574), “Rijos”. Do gr. sklêros, “duro ”, “forte", “obstinado".
[16] Ibid., Biblioteca Bíblica (2017).
[17] Ibid., (CBASD, 2014, vol. 7, p. 574). Cf. “Língua como fogo destruidor” noutras parte das Santas Escrituras (Sl 39:1-3; 120:2-4; Pv 16:27; 26:21; Is 30:27).
[18] Agrega a Bíblia de Estudos Andrews (2015, p. 1612, 1613), “Inferno” e não Hades (usado no NT par inferno), mas geenna, no de depositário de lixo fora de Jerusalém ao qual ficava queimando e exalando fumaça a todo instante. Figura do castigo final dos ímpios. Acrescenta mais o (CBASD, 2014, vol. 7, p. 574), a“língua" que destrói a harmonia, a paz e a amizade é motivada por uma vontade que está sob o controle de Satanás (Mt 13:25-28) ”.
[19] Cf. “A única outra ocorrência no (NT) está em Mc 5.4” o qual se refere a domínio do corpo (BRUCE, 2008, p. 2144). Mais detalhes cf. BRUCE, F. F (Org.). Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento. Tradução: Valdemar Kroker. 1. ed. São Paulo: Editora Vida, 2008.
[20] Ibid., Biblioteca Bíblica (2017). Os seres humanos foram “feitos à semelhança de Deus” (Tg 3: 9; Gn 1: 26, 27), logo, o que amaldiçoa a “semelhança de Deus”, com a língua para Tiago equivale a “amaldiçoar” o próprio Deus fonte primária dos seres criados. É dever do Cristão cuidar do seu próximo demonstrando-lhe amor e dignidade (1Jo 3:17; 4:8).
[21] Cf. Talvez segundo alguns estudiosos essa água se refira a do mar morto “ (chamado no A T de mar de Sal), que tinha tanto sal quanto fontes de água doce nas suas margens” (BRUCE, 2008, p. 2144).
[22] Bíblia de Estudos Genebra (2009, p. 1674). Mais sobre cf. BLIA. Português. Bíblia de Estudos de Genebra. 2. ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2009, 1674.
[23]Cf. Mais sobre WHITE, Ellen G. Nossa Alta Vocação. [1962]. Disponível em: <http://centrowhite.org.br/files/ebooks/egw/Nossa% 20Alta%20Voca%C3%A7%C3%A3o.pdf>.  Acesso em: 28 out. 2017. 
[24] WHITE, Ellen Gould. Ms, 92-1899. [1899]. Disponível em: <https://m.egwwritings.org/en/ book/6875/info>. Acesso em 28 out. 2017.
[25] Cf. sobre o convite a Santidade (AT) Lv 11:44; e ainda o apelo de Paulo aos Cristão (Rm 12:1-2; 2Co 7:1; 1Ts 4:7; Hb 12:14) e o apelo do apostolo Pedro (1Pe 1:15). 

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